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Vinho & Coração |
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Desde a Antiguidade o homem sabia que o vinho era remédio para o coração, se não para as enfermidades cardíacas, com certeza para as dores d’alma, e isso está expresso em um sem-número de poemas registrados na literatura. Omar Khayyam, poeta persa que morreu em 1123 (provavelmente o autor do maior número de poemas relativos ao vinho feitos por um só homem), em um dos seus famosos poemas, diz: “Vinho! Eis o remédio que carece o meu coração doente. Vinho com perfume almiscarado! Vinho cor-de-rosa!” No entanto, a relação entre vinho e coração, na verdade, só começou a assumir importância quando, em 17 de novembro de 1991, o programa de Marley Safer, 60 minutes, da rede de televisão americana CBS, o de maior audiência no país, abordou em detalhes o “paradoxo francês”. Na realidade, o que foi reportado naquela ocasião foram os estudos médicos realizados na Europa e Estados Unidos cujos resultados evidenciavam inconsistência entre o estilo de vida e a incidência de doenças cardiovasculares na França. Em outras palavras, apesar de praticarem uma dieta rica em alimentos como manteiga, queijos e ovos, além de uma estimativa de 15% das calorias obtidas a partir de gorduras saturadas, tudo isso aliado a pouca prática de exercícios, os franceses apresentavam uma incidência de doenças cardíacas 40% menor que os americanos. O paradoxo, ou seja, a incompatibilidade existente entre uma dieta rica em gorduras e o baixo índice de doenças cardíacas, sugeriu-se, devia-se ao hábito dos franceses de ingerir vinho tinto diariamente durante as refeições, o que, aparentemente estaria relacionado com a proteção contra problemas cardiovasculares. O fato é que, a partir do célebre “paradoxo francês” mais de 13 mil trabalhos foram publicados na literatura científica mostrando que o vinho tem as mais variadas virtudes terapêuticas.No que se refere ao coração, a seqüência de estudos estabeleceu as ações e os elementos do vinho que agem na prevenção das doenças cardiovasculares, notadamente na doença coronariana. Na atualidade, o que se aceita como verdadeiro é que os componentes fenólicos, polifenóis e flavonóides, contribuintes ativos nas propriedades sensoriais do vinho, atuam de forma benéfica para a saúde. Mais especificamente, o efeito cardioprotetor do vinho seria dado principalmente pelo resveratrol, promotor de uma elevação da taxa de colesterol HDL (bom colesterol) por meio do aumento de suas subfrações HDL2, HDL3 e das apolipoproteínas A-1 e A-2 e por uma ação antioxidante, que levaria à diminuição do colesterol LDL (mau colesterol, responsável pelas lesões ateroscleróticas). A ingestão moderada de vinho (uma a duas doses diárias) promove elevação de aproximadamente 12% nos níveis de HDL, semelhante à obtida com a prática de exercícios. No sistema de coagulação, o vinho inibe a agregação plaquetária, elevando o ativador de plasminogênio e reduzindo as concentrações de fibrinogênio. Avaliando um estudo publicado na revista Circulation (2001; 104: 151) pacientes que sofreram infarto do miocárdio, evidenciou que beber duas taças de vinho diariamente diminui a possibilidade de ocorrência de um segundo infarto do miocárdio ou de outro tipo de complicação cardiovascular. Os pesquisadores da Universidade Joseph Fourier, de Grenoble, autores do estudo, também observaram que a propensão a um segundo infarto do miocárdio em pessoas que bebiam pelo menos duas taças de vinho diariamente, era menor quando comparada com aquelas que não o bebiam. Mais recentemente, Roger Corder, do Instituto de Pesquisa William Harvey, em St. Bartholomew, e da Universidade de Londres, descobriu que os polifenóis existentes no vinho inibem a produção de um peptídeo chamado endotelina, responsável pela contração dos vasos sanguíneos coronarianos e, por conseguinte, diminuindo a possibidade de infarto do miocárdio.
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